terça-feira, 1 de maio de 2012

Breve Fábula Sobre as Pequenas Empolgações Coletivas


...e diante de toda a confusão dos dias atuais, o velho registrador dirigiu-se aos pais da criança:

- E o sexo? Qual será o sexo dela?

Os pais, que até então não haviam conversado a respeito, concluíram que a natureza deveria decidir. Não consideravam justo impor à filha que representasse um ou outro papel na vida. Afinal – disse o pai, com o dedo em riste -, “quem define, limita”.

A isso se sucederam aplausos, lágrimas, gritos de emoção. Um vereador da pequena comuna proferiu um discurso inflamado sobre a liberdade do ser. O circo fez questão de desfilar pelo centro da cidade, e sobre o grande elefante branco foram cosidas as insígnias da modernidade: "Liberté, Egalité, Fraternité". Projetaram a construção de um enorme pórtico na entrada do lugarejo, para ilustrar a grandeza do povo local. Um filósofo grego, dado por morto há séculos, tornou a lecionar na praça central. A pacata cidade viveu os seus mais belos dias - dias de eufórico idealismo.

Alheio à empolgação geral, o escrevinhador assentou, serenamente: “A ver”.

E depois certificou: “Pais ausentes do ato”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário