sexta-feira, 6 de julho de 2012

A auto-estima do Homem-Elefante

Eu tenho medo do que se passa na cabeça de David Lynch, diretor de cinema que apresenta uma mórbida predileção por figuras estranhas e bizarras. *

Depois do enigmático - e pungente, tocante, nojento, inesquecível e incompreensível - Eraserhead, o diretor voltou à carga com O Homem-Elefante, história (real) de um homem com deformações físicas.

Não vou aqui lhes contar a história, mas tenho que admitir que a cena em que o personagem monstrengo reage à curiosidade opressiva com gritos de "Eu não sou um animal, eu sou humano, eu sou um homem!" calou fundo na minha cabeça.

O curioso é que há quem se submeta voluntariamente à subcondição de animal em exposição, a exemplo das celebridades, psicóticos enamorados e servidores comissionados (?).

É aqui que eu lembro de algo que li em Dostoiévksi: "Um homem sem orgulho próprio tende a ser aniquilado".

(Pausa para meditação.)

Para ser justo, 19 anos depois David Lynch filmou o belo Uma História Real, em que um velho teimoso atravessa um estado estadunidense a bordo de um cortador de grama, tudo para se reconciliar com seu irmão doente.

Morangos Silvestres



Cultive e seja fiel aos bens da sua infância - é o que ensina este ótimo filme do sueco Ingmar Bergman.

O Dr. Isak Borg, personagem central do filme, é um médico e professor de idade que dedicou a vida ao trabalho, ao estudo e à ciência, deixando de lado a família e os amigos. Aliás, ele não tem amigos, senão uma rígida empregada, uma nora que o odeia e um filho distante.

Lá pelas tantas ele passa a sofrer de sonhos de significados cifrados; é tocado por estas "revelações" e daí decide que deve viver um pouco a vida e, no possível, reparar os danos históricos que causou a si mesmo.

A viagem necessária para receber um prêmio por mérito médico já não é feita na impessoalidade de um avião, mas de carro e na companhia de sua nora. No caminho, visita a sua casa de infância (onde, ao lado do canteiro dos morangos silvestres, contempla momentos passados) e conhece alguns outros personagens (o vivaz trio de enamorados; o estressante casal em eterno atrito; os simples e amáveis trabalhadores de sua cidade natal; a velha mãe que finge não ter saudades do filho), o que transforma uma viagem banal em uma experiência única.

A mensagem do filme é sutil: "Vivamos!", é o grito mudo que se ouve ao final.