Caminhavam vagarosamente pelo mosaico da cidade. Ambos velhos e barbudos, sentiam-se estranhos naquela infindável histeria coletiva. IPods, o colorido dos outdoors, trânsito, música alta, a pressa difundida: não entenderam se era mesmo o fim dos tempos ou a realização completa da Humanidade.
- Há tantas necessidades assim?
- Agora há. Se não havia antes, alguém as inventou.
Mergulharam em um demorado silêncio contemplativo, daqueles que só os amantes e os bons amigos não têm medo.
Nos últimos anos sentiam-se estranhos estrangeiros; sentiam-se deslocados na terra que outrora viu crescer dois meninos cheios de vida; uma terra de cujos costumes afastaram-se ou foram afastados.
Em que momento perderam o contato com os outros?, não sabiam. Quando perderam a legitimidade social?, tampouco.
- São tempos de abastança, não achas? - disse um deles, que começava a apresentar sinais de senilidade.
- Pois eu prefiro os tempos de antes: tempos da bastança - concluiu o outro, minimalista.
Riram um riso embotado, um misto de nervoso com alegria pela proximidade do fim.
Suspiraram resignados.
* Com imagem de Oswaldo Goeldi
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